A grande maioria das pessoas do mundo das artes marciais sabe que a tradução do japonês para o português de “Judô” é algo como “Caminho Suave” e de “Jiu-Jitsu” algo como “Arte Suave“. Mas o que de fato este “suave” quer dizer? E é correto dizer que a suavidade é um dos princípios do Judô e também do Jiu-Jitsu?

O Jiu-Jitsu é uma arte suave mesmo?
O Jiu-Jitsu é uma arte suave mesmo?

Para responder a esta pergunta, nada melhor que convidar para este nossa reflexão o Shihan Jigoro Kano, que não só é considerado o pai do Judô como também é o pai do Jiu-Jitsu Brasileiro. Tanto “Ju” de Judô e “Jiu” de Jiu-Jitsu são representados pelo mesmo caractér chinês, e por isso, possuem o mesmo significado, que em português, conhecemos como “suave”. Mas o que isso quer dizer? Jigoro Kano responde, dizendo que “vários registros foram passados com o passar do tempo sobre o verdadeiro significado de ‘jiu-jitsu’, mas poucos deles são precisos. Pode-se dizer, entretanto, que o nome aparentemente deriva da expressão Ju Yoku Go o Seisu, que pode ser traduzido como ‘a suavidade controla a dureza’. É preciso dar uma atenção mais aprofundada a esta expressão.” (Todos os trechos deste post foram retirados do livro Mind over Muscle: Writings from the founder of Judo, tradução nossa)

O que significa Ju Yoku Go o Seisu?

Para explicar com mais detalhes o significado desta idéia de que a suavidade pode controlar a dureza, Jigoro Kano dá um exemplo bem simples. Imagine que um oponente tem a força 10 e usa sua força contra mim, que tenho a força 7. Se eu resisto, irei perder, pois minha força é menor. Porém, se eu ajusto e adapto a energia de meu oponente e o puxo, ele irá cair, e a força dele de 10 irá passar a ser uma força 3. Desse modo, Jigoro Kano diz que essa teoria poderia funcionar para qualquer tipo de força, justificando a ideia de que é possível que pessoas fracas vençam pessoas significativamente mais fortes.

Shihan Jigoro Kano, o pai das artes marciais modernas
Shihan Jigoro Kano, o pai das artes marciais modernas

Porém, continua Jigoro Kano, “se torna claro que não podemos sempre explicar as coisas através da teoria do ju yoku go o seisu“. É possível que eu tenha que usar a minha força e técnica para vencer um oponente mais fraco. E isto é algo completamente diferente da ideia de que a suavidade vence a dureza, de que a fraqueza vence a força. As vezes também devemos ser ativos em uma disputa. Como diz Kano shihan, “durante uma competição, uma pessoa pode chutar seu oponente. Isso não pode ser chamado de ju yoku go o seisu tampouco. Isso é um caso de colocar energia ativamente para trabalhar em certa direção e chutar o oponente nos seus pontos vitais para causar dano”.

Para Kano Shihan, são várias as limitações que existem neste conceito da suavidade. Um conceito bastante limitado e que nem mesmo faz jus a realidade de todas as artes marciais do passado que eram ensinadas como jiu-jitsu. O conceito da suavidade é apenas um dos vários conceitos existentes nestas artes, sendo um conceito bastante limitado, capaz de nos dar apenas explicações parciais sobre as diversas técnicas destas artes.

Como forma de prover outro exemplo, Jigoro Kano nos conta sobre uma parábola popular da época:

“Um jujutsuka (praticante de jiu-jitsu) foi agarrado por um lutador de sumo. Neste momento, o jujutsuka disse: ‘você é um lutador de sumo, mas ainda assim não é capaz de me agarrar mais forte do que isso?’. Irritado, o lutador de sumo tentou ajustar seu aguarre. E quando o fez ele perdeu afroxou levemente a pegada. Nesse momento, o jujutsuka rapidamente abaixou seu corpo e escapou da pegada do lutador de sumo.”

Esta parábola é um exemplo do uso inteligente da suavidade. Porém, e se o lutador de sumo não tivesse ficado irritado? Se não tivesse entrado no jogo psicológico do jujutsuka? A suavidade venceria? Nem sempre. Assim, em suas reflexões, Jigoro Kano explica que as técnicas do Judô (e podemos extender ao Jiu-Jitsu Brasileiro) são baseadas em varias teorias, sendo o ju yoku go o seisu apenas uma parte pequena das teorias do jiu-jitsu e taijitsu do passado. E a pergunta que Jigoro Kano faz é:

Existe uma teoria universal que se aplica todo o tempo a todas as situações?

Para Kano Shihan, a resposta é sim. Existe tal teoria. E ela é a teoria do Seiryoku Saizen Katsuyo.

Seiryoku Saizen Katsuyo – Uma teoria universal

Aqui no site já fizemos vários posts sobre a teoria do Seiryoku Saizen Katsuyo. Mas vamos dar uma olhada uma vez mais sobre a explicação de Kano em contraste com a teoria do ju yoku go o seisu.

Para Jigoro Kano, devemos sempre usar a nossa energia física e mental do modo mais eficiente possível par atingir certos objetivos. Assim, podemos interpretar Seiryoku Saizen Katsuyo como “o melhor uso da energia”, ou, abreviadamente, Seiryoku Zenyo, “máximo de eficiencia”. Nas palavras de Kano, “isso significa que, independentemente do objetivo, para alcança-lo, você deve colocar sua energia física e mental para trabalhar da forma mais efetiva”. E Jigoro Kano não está falando apenas no sentido marcial e técnico, mas sim, que este princípio deve ser aplicado também em nossa vida social, em casa, etc.

Kano continua: “as técnicas do Judô podem ser explicada com a teoria do Seiryoku saizen katsuyo, mas náo podem ser explicadas com uma teoria como a do ju yoku go o seisu“.

Talvez aqui a gente possa interpretar melhor o que significa realmente Judô e Jiu-Jitsu. Ao invés de dizer que Judô é “Caminho suave”, podemos dizer que é “O caminho da máxima eficiência”. Assim como Jiu-Jitsu seria a “Arte da Máxima Eficiência“. Resta agora, para os Judocas, compreendeer o que significa “Dô”, ou “Caminho”. Mas isso é tema para um post futuro.

Você concorda com Jigoro Kano? Comente abaixo seus pensamentos sobre esta reflexão!