Mais um dia de muita emoção e luta neste quarto dia de competição nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. O Brasil contou com a participação de nossa medalhista olímpica Ketleyn Quadros na categoria feminina -63kg e com Eduardo Yudi Santos na categoria masculina -81kg.

Assim como ontem tivemos a presença de um mestre na arte do judô, Shohei Ono, hoje também tivemos a presença de uma lenda e uma verdadeira mestra na arte do judô, a grande favorita, Clarisse Agbegnenou, da França. Um grande desafio para Ketleyn Quadros para chegar à final, pois Quadros possivelmente iria encontrar Agbegnenou nas semi-finais. Mas para isso, deveria passar pela número 7 do mundo e medalhista de ouro no Grand Slam de Judô – Tbilisi 2021, a canadense Catherine Beauchemin-Pinard. Na mesma categoria, atletas experientes como a japonesa Miku Tashiro, número 3 do mundo, e a eslovena Tina Trstenjak, segunda do mundo e medalha de ouro no Rio 2016, se encontravam dispostas a vencer a todo custo.

Ketleyn Quadros não teve adversária na sua primeira luta, avançando para o segundou round contra a atleta da mongólia, Gankhaich Bold. Uma luta difícil, mas faltando menos de um minuto para o fim da luta, Quadros marca seu primeiro wazari com um Sumi Gaeshi, e logo depois marca o segundo wazari com um ura nage, vencendo Bolg (MGL) e avançando para as quartas de finais, onde encontraria a canadense Beuchemin-Pinard. Esta luta claramente seria uma luta difícil para Ketleyn Quadros. Difícil, mas não impossível.

O combate entre Quadros e Beuchemin-Pinard estava aperado e difícil. Quadros estava fazendo um excelente trabalho, mas cometeu um pequeno deslilze ao esperar que o juiz desse mate!. Nesse momento de distração, a canadense entrou com um Sumi Gaeshi e marcou seu primeiro wazari, continuando sua movimentação de transição e caindo em yoko shiho gatame, imobilizando a brasileira e marcando assim seu segundo wazari. O Brasil já não tinha mais chance de disputar o ouro, porém, ainda tinha chance de ir pelo bronze, enquanto que a canadense iria para seu próximo confronto, uma guerra contra a 5 vezes campeã mundial, Clarisse Agbegnenou.

Na repescagem, Ketleyn Quadros confrontou a holandesa Juul Franssen, décima primeira no ranking mundial e uma atleta bastante técnica. Nessa disputa foi possível ver uma Ketleyn Quadros muito mais motivada e bastante agressiva, com ataques contundentes e técnicos. A holandesa não encontrava espaço para atacar e ia acumulando duas penalidades (shido). Mas como sabemos, no judô as vezes não temos tempo de piscar os olhos. Um segundo de distração pode seignificar a derrota. E a holandesa encontrou este um segundo e levou Quadros para Osaekomi, imobilizando a brasileira por 20 segundos e marcando ippon. Já não havia chance de medalhas para o Brasil.

Ketleyn Quadros contra a holandesa Franssen

Clarisse Agbegnenou, a rainha e grande mestra da arte japonesa

Clarisse Agbegnenou é uma personagem à parte. Nas olimpíadas do Rio 2016, chegou à final de sua categoria, enfrentando a eslovena Tina Trstenjak. Neste dia, Trstenjak foi capaz de vencer Agbegnenou e levar o ouro, enquanto que a francesa teve que se contentar com o bronze. Porém, Agbegnenou só fazia crescer. Foi acumulando medalha de ouro nos mundiais de judô, chegando ao ponto de participar, faltando um mês para as olimpíadas de Tóquio, de mais um mundial conquistando assim sua quinta medalha de ouro em mundiais. Estamos falando aqui de uma verdadeira lenda do Judô Feminino.

Agbegnenou não teve um caminho fácil até as finais. Em sua primeira luta, enfrentou a judoca de Cabo Verde Sandrine Billiet, marcando um ippon com certa tranquilidade. Em sua segunda luta, enfrentou a atleta da holanda Juul Franssen, pontuando um wazari e avançando para as semi-finais, onde encontraria uma de suas grandes rivais, a canadense Beuchemin-Pinard.

A disputa nas semi-finais foi dura, mas aos dois minutos de luta, Agbegnenou pontuou um wazari, vencendo a luta e avançando para as finais. E nas finais, Agbegnenou iria encontrar ninguém menos que Tina Trstenjak (SLO), medalhista de ouro no Rio 2016. Agbegnenou estava disposta a levar para casa sua medalha de ouro. Não iria perder pela segunda vez para a mesma adversária. Foi uma disputa extremamente difícil. Mas desta vez, Agbegnenou demonstrou garra, motivação, e em um momento calculado, entrou com um ko uchi gari contra a canadense. A canadense arriscou contra-atacar Clarisse com um deashi barai no mesmo momento, mas Clarisse aproveitou o desequilibrio e levou a canadense ao solo, marcando um wazari aos 37 segundos do Golden Score.

Clarisse Agbegnenou – Medalha de Ouro na categoria -63kg – Tóquio 2020

Uma grande surpresa nesta categoria foi a eliminação da japonesa Miku Tashiro, terceira no ranking mundial e uma das favoritas. Tashiro foi eliminada em sua segunda luta, contra a polaca Agata Ozdoba-Blach, ao receber um belíssimo kouchi makikomi da polaca, que marcou um ippon com esta técnica. Primeira disputa por medalhas no judô sem a presença do japão.

Medalhistas da categoria -63kg feminino – Judô Tóquio 2020

Ranking Final – Categoria -63kg Feminino

  • Ouro – Clarisse Agbegnenou (FRA)
  • Prata – Tina Trstenjak (SLO)
  • Brinze – Maria Centracchio (ITA) e Catherine Beauchemin-Pinard (CAN)

Takanori Nagase contra Saeid Mollaei – Um dia histórico para o Judô

A disputa pelas medalhas no masculino neste dia também não foi fácil. O Brasil contou com a presença de Eduardo Yudi Santos, que em sua primeira luta confrontou ninguém menos que o mais que experiente Sagi Muki (ISR). Os prognósticos não estavam a favor do Brasil nesta categoria, e Muki venceu tranquilamente o brasileiro, avançando na disputa como um dos favoritos.

Outro grande favorito nesta categoria era Saeid Mollaei. Mollaei, para quem não se recorda, lutava pelo Irã, sua terra natal, quando no mundial de Tóquio de 2019, a delegação iraniana solicitou que Mollaei não lutasse para não ter que estar no mesmo espaço que o adversario de Israel, Sagi Muki. Foi um momento de crise para o judô, já que este tipo de atitude vai contra qualquer espírito de união e de ética. Mollaei decidiu abandonar seu país, se refugiando na europa, e passando a ter como um de seus melhores amigos o israelense Sagi Muki. Nestas olimpíadas, Mollaei decidiu vestir a bandeira da Mongólia, país que o recebeu de braços abertos. Seria incrível poder assistir neste evento uma disputa destes dois grandes exemplos do Judô, mas infelizmente Sagi Muki foi eliminado em sua segunda luta, contra o austriaco Shamil Borchashvili, que o venceu com um belo ura nage.

Mollaei, que já vinha vencendo incansavelmente seus adversários, confrontou o austríaco Borchashvili nas semi-finais, onde marcou dois wazari quase que seguidos com a mesma técnica: kata guruma.

Nagase e Mollaei – Dois verdadeiros campeões do Judô – Olimpíadas de Tóquio 2020

A final do masculino não poderia ser melhor: Mollaei (MGL) contra Nagase (JPN). Nagase se mostrou bastante paciente durante a disputa e sabia que estaria entrando em confronto direto com um judoca não somente extremamente técnico e forte, como com um Mollaei disposto a ganhar o ouro e se consagrar como um verdadeiro campeão, no judô e na vida. Nagase foi paciente, e no momento adequado entrou com um perfeito Ashi Guruma, aos um minuto e quarenta e três segundos de Golden Score. O Japão consegue, portanto, mais um ouro no Judô. E Mollaei, no entanto, saiu extremamente feliz e comemorando muito. Se há um atleta que personaliza o espirito do Judô, é Mollaei. Esta útima luta foi o encerramento de mais um dia histórico para o Judô. Um dia para se celebrar.

Ranking Final – Categoria -81kg Masculino

  • Ouro – Takanori Nagase (JPN)
  • Prata – Saeid Mollaei (MGL)
  • Bronze – Shamil Borchashvili (AUT) e Matthias Casse (BEL)
Medalhistas da categoria -81kg – Judô Masculino – Tóquio 2020