E chegamos ao fim do terceiro dia do judô nas olimpíadas de Tóquio de 2020. O Brasil somente contou com a presença de um atleta neste dia, na categoria masculino -73 kg, Eduardo Barbosa. E na disputa pelas medalhas nesta categoria, nomes como Fábio Basile (ITA), Orujov (AZE), Shavdatuashvili (GEO), dentre outros excelentes atletas, e também, ninguém menos que Shohei Ono (JPN), medalhista de ouro nas olimpíadas do Rio 2016.

Na primeira luta, Eduardo Barbosa tem como adversário o francês Giollaume Chaine. Uma luta um pouco morna e um pouco travada nos primeiros quatro minutos, indo ao Golden Score. No Golden Score, Barbosa aplicou um Ko Uchi Gari, que para muitos seria considerado um wazari, mas não houve continuidade do movimento para que a pontuação fosse marcada. E nesse momento o francês imediatamente reagiu com um movimento de transição, encaixando um Juji-Gatame e vencendo a luta por finalização. Não foi desta vez que o Brasil teve chance.

Em sua segunda luta, o francês Chaine encontrou o fortíssimo atleta da Geórgia, Shavdatuashvili, que venceu o francês com um wazari. Foi a primeira luta de Shavdatuashvili e o início de uma jornada que o levaria até a disputa pelo ouro.

Fábio Basile (ITA) teve em sua primeira luta um adversário extremamente forte, An Changrim (KOR), o quarto no ranking mundial. Uma luta extremamente difícil que foi até os 4:33 do Golden Score, e que deu vitória ao sul-coreano Changrim. Fábio Basile, um dos favoritos, acabou caindo também em sua primeira luta dos jogos olímpicos de Tóquio, 2020. Changrim por sua vez teve uma excelente performance, até chegar nas semi-finais e encontrar Shavdatuashvili, da Geórgia. A luta foi bastante disputada, indo novamente ao Golden Score, e o sul-coreano foi eliminado aos 04:37 do Golden Score após receber seu terceiro shido, por falta de combatividade. Shavdatuashvili, da Geórgia, campeão olímpico nos jogos olímpicos de Londres em 2012 e bronze nos jogos olímpicos do Rio 2016, estava garantido na disputa pelo ouro olímpico em Tóquio 2020.

Shohei Ono – Um gênio, um artista, o rei

Shoehi Ono foi o primeiro de todas as pessoas a chegar na arena Nippon Budokan neste terceiro dia. Com a arena vazia, Ono caminhou em silêncio pelo tatame, com os olhos fechados. Como um artista, talvez ele estivesse já desenhando o seu futuro deste dia, imaginando todos os detalhes. Como um verdadeiro guerreiro, demonstrou em todas as suas lutas a mesma paz e tranquilidade de espirito que demonstrou quando entrou sozinho no tatame para meditar.

A primeira luta de Ono foi tranquila, contra Raicu (ROU). Aos 1:40 de luta, Ono aplicou seu clássico Uchi Mata, marcando seu primeiro ippon no torneio. Em seguida, Ono venceu Bilai Ciloglu (TUR), controlando seu adversário tranquilamente com um Yoko Shiho Gatame e marcando um ippon faltando apenas um minuto para o fim da luta.

O próximo adversário de Ono seria alguém bastante conhecido dele: Orujov (AZB). Um confronto bastante esperado. Orujov se demonstrou um oponente à altura, ao mesmo tempo que Ono demonstrava uma tranquilidade inabalável. Aos dois minutos de luta, Ono aplicou seu Tokui Waza outra vez: Uchi Mata. E com ele marcou seu primeiro wazari, para desespero de Orujov. Em seguida, faltando 50 segundos para o fim da luta, Ono pontua outro wazari com um ko uchi gake, vencendo Orujov e caminhando para as semi-finais.

Nas semi-finais, Ono confronta o sexto no ranking mundial, o atleta da Mongólia Tsogtbaatar Tsend-Ochir. Ono, como sempre, paciente, calmo e extremamente técnico. Não investiu em muitos ataques, para investir somente em ataques precisos. E o atleta da mongólia foi efetivo em bloquear os ataques de Ono. Ainda assim e com toda a pressão, o semblante de Ono era de tranquilidade e confiança e aos 54 segundos do Golden Score, Ono aplica um Tani Otoshi e garante seu lugar na final.

Shohei Ono aplicando um Osoto Gari

Na final Ono encontraria ninguém menos que Shavdatuashvili, medalhista olímpico e terceiro no ranking mundial. Não poderia haver melhor disputa de final para este dia. Ono como sempre extremamente frio, calculista, inabalável. Enquanto que o atleta da Geórgia decidiu investir toda sua energia para vencer o Rei, Shohei Ono. Muitoa disputa de pegada, muita pressão e agressividade de Shavdatuashvili, mas nenhuma pontuação. A luta foi para o Golden Score e Ono recebe seu segundo shido. Mais uma penalidade e ele perderia a luta. Ainda assim, para Ono, foi como se a penalidade não existisse. Ele não estava preocupado. Ele sabia para onde ia e sabia que iria chegar.

Ono começa a preparar seu adversário psicologicamente, fintando sequencialmente entradas de Osoto Gari, para condicionar Shavdatuashvili a defender-se desta técnica. E eventualmente Ono fintava o Osoto, sempre condicionando o adversário para a reação. Por fim, como um gênio da arte, Ono entra não um Osoto Gari, mas sim, a técnica que está sempre presente nas combinações de Osoto: Sasae Tsurikomi Ashi. Shavdatuashvili estava esperando justamente aquilo pelo qual foi condicionado pelo gênio, e por isso, não foi capaz de defender-se do Sasae. Mas não somente isso, Ono combinou seu Sasae com um Sumi Otoshi, tornando a projeção ainda mais perfeita. Aquilo que todos esperávamos se torna outra vez realidade: Shohei Ono é outra vez medalha de ouro nos Jogos Olímpicos, desta vez, em casa, em Tóquio.

Em entrevista, Ono contou que seu treinador disse a ele: “Durante os jogos, sinta-se forte e sempre avance.” Um conselho que Ono seguiu ao pé da letra.

Medalhistas da categoria -73kg – Judô masculino – Olimpíadas de Tóquio 2020

Ranking Final – Categoria Masculino -73kg

  • Ouro – Shohei Ono (JPN)
  • Prata – Lasha Shavdatuashvili (GEO)
  • Bronze – Tsogtbaatar Tsend-Ochir (MGL) e Changrim An (KOR)

Judô Feminino – Muita Técnica, Habilidades, Surpresas e Decepções

As disputas na categoria fenimina -57kg também foi muito disputada, e infelizmente não contou com a presença de atletas brasileiros. Com muitas favoritas pelo Ouro, como a número 1 do mundo, Jessica Klimkait (CAN), a terceira do mundo Yoshida Tsukasa (JPN), Telma Monteiro (POR), Nora Gjakova (KOS) e Sarah Leonie Cysique (FRA), este dia prometeria lutas muito disputadas.

Uma das lutas que chamou bastante atenção e teve bastante aplauso do público foi a luta entre Sabrina Filzmoser (AUT) e Sanne Verhagen (NED). Sabrina Filzmoser é uma atleta de 41 anos de idade que disputou os jogos olímpicos de 2008 e 2012, e está posicionada como a número 31 do ranking. Não é sempre que vemos uma guerreira de 41 anos disputando os jogos olímpicos de judô. Além de bastante experiente, Sabrina fez por bastante tempo um excelente trabalho de divulgação do Judô e da Filosofia de Jigoro Kano em países como Butão e Nepal. Apesar de, em sua primeira luta, ter sido eliminada pela holandesa Verhagen aos 01:35 do Golden Score, Sabrina saiu aplaudida de pé por todas as pessoas presentes na arena. Foi um momento muito emocionande, que deixa claro e explícito os valores do Judô.

Telma Monteiro, de Portugal, uma das favoritas, infelimente foi eliminada em sua segunda luta ao receber seu terceiro Shido, contra Julia Kowalczyk (POL). Já uma das favoritas para o ouro, a canadense Klimkait, fez excelentes lutas com bonitas vitórias, até que chegou nas semi-finais e bateu de frente com Sarah Leonie Cysique, da França. A canadense entrou diversas vezes com seu Tokui Waza, um Seoi Nage cirúrgico. Mas a francesa soube defender cada um dos seus ataques pasando sempre a perna pela frente de Klimkait. A luta acabou sendo definida através das penalidades, quando Klimkait recebeu seu terceiro shido e perdendo assim a oportunidade do ouro.

A segunda favorita para o ouro, Yoshida Tsukasa, do Japão, também teve uma excelente performance, mas nas semi-finais, encontrou-se com uma atleta da mais nova pequena potência do Judô – Nora Gjakova, de Kosovo. Yoshida lutou com muita paciência e perseverança, como a maioria dos judocas japoneses, e sempre esperando o momento adequado para entrar com sua técnica principal, o Uchi Mata. Mas Nora Gjakova foi bastante resiliente, além de estar extremamente motivada a ser a segunda mulher de seu pais a conquistar um ouro no Judô. Nora confrontou a japonesa sem medo e friamente, defendendo todas as tentativas de Uchi Mata.

A luta foi para o Golden Score e a japonesa começou a demonstrar um pouco de insegurança, apesar de continuar com bastante garra. E em um momento de desatenção da japonesa, Nora Gjakova entrou com um justíssimo Kosoto Gake, impedindo qualquer possibilidade de defesa de Yoshida e garantindo seu lugar na disputa pelo ouro, contra a francesa Cysique.

As finais não foram como muitos dos analistas esperavam, mas foi uma final de verdadeiras guerreiras que mais que mereceram estar nesta disputa. Tanto Nora Gjakova (KOS) quanto a francesa Cysique estavam bastante motivadas e determinadas a vencer. Porém, em um determinado momento, a francesa decidiu entrar com um Soto Makikomi e ao seguir o movimento, apoiou sua cabeça no solo. A luta foi parada e os juizes decidiram rever o vídeo. Hansoku-Make para a francesa. Este tipo de manobra não é permitido.

Cysique saiu bastante decepcionada desta derrota. Ela não esperava a desclassificação, e sim, um Shido para Gjakova. Mas regra é regra, e infelizmente foi o que ocorreu. E com a desclassificação, Nora Gjakova, a número 5 do ranking mundial, se consagrou medalha de ouro da categoria -57kg feminino.

Ranking Final – Categoria Feminino -57kg

  • Ouro – Nora Gjakova (KOS)
  • Prata – Sarah Leonie Cysique (FRA)
  • Bronze – Tsukasa Yoshida (JPN) e Jessica Klimkait (CAN)
Nora Gjakova (KOS), medalha de ouro na categoria de -58 kg feminino
Medalhistas da categoria -57kg feminino do Judô – Olimpíadas de Tóquio 2020