O quinto dia da participação do Judô nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 seria um dia com muitas emoções. O Brasil contou novamente com a presença de dois atletas, e uma grande promessa de medalha: Maria Portela, a décima no ranking mundial e atleta de muita técnica e experiência, iria encarar uma categoria com atletas também muito experientes, como a japonesa Arai Chizuru, quinta no ranking mundial, a portuguesa Barbara Timo, décima quinta no ranking, Margaux Pinot, da França e quarta no ranking mundial, Van Dijke da Holanda, terceira no ranking mundial e Michaela Polleres, da Áustria e oitava no ranking mundial.

O que esperávamos ser um dia difícil, acabou sendo um dia polêmico. Na primeira luta, contra Nigara Shaheen, da Equipe Olímpica de Refugiados, Maria Portela não teve problema. Aplicou a técnica que já é marca registrada desta grande atleta, o Sode Tsurikomi Goshi, e venceu a luta nos primeiro 30 segundos de luta.

Entretanto, Portela tinha uma grande oponente pela frente: A atleta Madina Taimazova, do Comitê Olímpico Russo, e décima quarta no ranking mundial. Taimazova já havia sido derrotada por Portela no Grand Slam de Tbilisi 2021, evento este em que Portela ganhou a medalha de ouro. Esta luta foi uma grande batalha, e um grande show. Portela se mostrou sempre ofensiva, muito técnica, atacando constantemente, impedindo que Taimazova fizesse qualquer ataque relevante. Por outro lado, Taimazova foi inteligente ao não permitir que Portela fizesse sua pegada favorita, para entrar seu Sode Tsurikomi Goshi ou as combinações clássicas de Portela, como um Sode -> Ko Uchi Gari, combinação esta que já rendeu medalha a Maria Portela.

A luta foi ao Golden Score, sendo que o juiz chegou a dar dois Shido para cada uma das atletas. Neste momento, qualquer erro significaria a derrota. Aos três minutos do Golden Score, Maria Portela consegue fazer a pegada nas duas mangas e entra com um lindo Seoi Otoshi, derrubando Taimazova. Uma técnica que, segundo muitos especialistas, deveria ser considerado wazari e com esta pontuação, Portela deveria avançar. Mas os juizes analizaram o vídeo e decidiram não dar wazari. A luta deveria continuar.

Maria Portela aplicando seu Seoi Otoshi e a decisão polêmica: Foi Wazari?
Outro ângulo da entrada de Maria Portela.

A luta continuou, e para cada ataque de Taimazova, Portela respondia com um contra-ataque contundente. Com dez minutos de Golden Score e quatorze minutos de luta no total, vimos as duas atletas bastante esgotadas, mas ainda motivadas para vencer. E neste momento, após uma série de ataques consecutivos de Taimazova, o juiz decide dar o terceiro shido a Maria Portela, eliminando de vez qualquer chance de medalha.

Nas redes sociais, muitos atletas e especialistas no Judô comentaram. A medalhista de prata da Eslovênia, Tina Trstenjak, postou em seu instagram um replay sugerindo que Portela deveria ter marcado o wazari. No Twitter, atletas como Flávio Canto, João Derly e outros também comentaram:

“Não darem o wazari pra Portela.. pra que serve o VAR? Francamente. Lamentável.” (Flávio Canto)

“Nunca gostei de falar da arbitragem, mas meu Deus o que foi essa luta? Wazari não marcado e uma punição muito injusta!” (João Derly)

“Uma vida dedicada ao sonho olímpico, e o árbitro após 10 minutos de Golden score definir a luta dessa forma. Deixa os atletas decidirem. Sem contar o Wazari que foi nítido antes.” (Luciano Correia)

Você acha que foi mesmo um wazari ou os árbitros acertaram a decisão? Deixe sua opinião nos comentários abaixo!!

Japão mais uma vez medalha de ouro

Após a vitória contra Maria Portela, a atleta Madina Taimazova seguiu adiante e venceu facilmente a atleta de Grécia, Elisavet Teltsidou, passando assim para as semi-finais. Neste momento, o desafio seria enorme: Chizuru Arai, do Japão, quinta do ranking mundial, duas vezes campeã mundial e atleta que lutava em casa, com a obrigação de ganhar uma medalha de ouro.

A disputa não poderia ser outra guerra para Taimazova. A atleta japonesa não estava disposta a deixar ninguém passar, e com sua expertize em newaza, contra-atacava Taimazova a todo momento com muita pressão com kansetsu waza e osaekomi waza. A luta acabou indo ao Golden Score, sendo uma disputa de duas grandes guerreiras. Aos 7 minutos de Golden Score, Arai aplica um Ude Gatame na atleta Russa, que grita de dor. Ao ouvir o grito, o juiz decide parar a luta para analizar se ela havia sido submetida ou não. Decidiram não dar a finalização para Arai e a luta seguiu adiante. Uma luta extremamente dinâmica e um show do newaza japonês.

Aos 12minutos e 40 segundos do Golden Score, quase 17 minutos de luta no total, a atleta japonesa se defende de um ataque de Taimazova e aplica um Shime Waza, uma técnica de estrangulamento, chamada Okuri Eri Jime. A técnica foi com tanta pressão que fez com que Taimazova desmaiasse. Era o fim da luta e a garantia de que o Japão iria levar um ouro ou uma prata para casa.

Já Taimazova iria ter a chance de disputar o bronze contra Barbara Matic, da Croácia, vencendo a mesma no Golden Score com um wazari.

Chizuru Arai (JPN) iria para a final contra Michaela Polleres (AUT). Com um minuto de luta, Arai entra com um Kosoto Gake fazendo a atleta austríaca cair para trás e pontuando um wazari. Com este wazari, a japonesa conseguiu manter o ritmo da luta, ganhando assim a medalha de ouro.

Chizuru Arai – Medalha de Ouro na categoria -70kg – Judô Feminino – Tóquio 2020

Ranking Final – Categoria -70kg Feminino

  • Ouro – Chizuru Arai (JPN)
  • Prata – Michaela Polleres (AUT)
  • Bronze – Madina Taimazova (ROC) e Sanne Van Dijke (NED)
Medalhistas da categoria -70kg – Judô Feminino – Tóquio 2020

Judô Masculino – Sem o Brasil e sem o Japão

A categoria -90kg do judô masculino também prometia ser uma categoria bastante disputada. Com favoritos como Nikoloz Sherazadishvili (ESP), número 1 do ranking mundial, Axel Clerget (FRA), Noel Van T End (NED), número 2 do ranking mundial, e o japonês Shoichiro Mukai, décimo segundo do ranking mundial, a disputa prometia ser dura.

O Brasil contou com a presença de Rafael Macedo, atualmente número 19 no ranking mundial. Em sua primeira luta, Macedo iria encontrar Islam Bozbayev (KAZ), um atleta que não estava entre os favoritos, mas ainda assim um atleta experiente. Infelizmente, com menos de um minuto de luta, Bozbayev entrou com um Seoi Otoshi marcando um ippon sobre o brasileiro, que foi eliminado da disputa.

Assim como não deu para o Brasil, não deu para o Japão. Mukai Shiuchiro foi eliminado em sua terceira luta, contra o Húngaro Krisztian Toth, que conseguiu terminar a disputa com uma medalha de bronze.

O espanhol Nikoloz Sherazadishvili, um dos principais favoritos, também não conseguiu ganhar nenhuma medalha. Nas quartas de finais perdeu para o Russo Mikhail Igolnikov, faltando um segundo para o final da luta, e na repescagem perdeu para Davlat Bobonov (UZB), este que terminou o torneio com medalha de bronze.

A grande final foi contra Lasha Bekauri (GEO), quarto do ranking mundial, contra Eduard Trippel (GER), décimo quinto no ranking mundial. Uma luta emocionante, com o atleta da Geórgia, que estava com o ombro machucado, marcando um wazari ao entrar com um Koshi Guruma contra o alemão. Bekauri ainda conectou uma imobilização e necessitava apenas 10 segundos para vencer, mas aos 7 segundos o alemão consegue escapar. A luta se tornava mais difícil para o alemão, que teria agora dois minutos pela frente para pontuar algo. Bekauri, de modo intelignete, conseguiu manter o ritmo da luta e ganhou a medalha de ouro com um wazari. Uma final muito dinâmica e extremamente emocionante. Sem dúvida uma disputa que vale a pena ser revista.

Koshi Guruma de Lasha Bekauri que garantiu o ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020
Lasha Bekauri (GEO), medalha de ouro, e Eduard Trippel (GER), medalha de prata

Ranking Final – Categoria -90 kg – Judô Masculino

  • Ouro – Lasha Bekauri (GEO)
  • Prata – Eduard Trippel (GER)
  • Bronze – Davlat Bobonov (UZB) e Krisztian Toth (HUN)
Medalhistas categoria -90kg – Judô Masculino – Tóquio 2020