Por muitos anos Jigoro Kano trabalhou como parte do Comitê Olímpico Internacional. Ele foi o primeiro membro asiático nomeado como membro, nomeação esta que ocorreu em 1909. Kano trabalhou como membro do COI de 1909 até o dia de sua morte em 1938, sendo quase 30 anos trabalhando ativamente em prol do esporte e da ideia do Olimpismo, ou seja a ideia de que através do esporte, os diversos paises do mundo devem respeitar-se e aprender um com o outro.

Nesse período, foram diversas ações em prol do esporte. Em 1911, Jigoro Kano fundou a Associação Atlética Amadora do Japão, tendo presidido esta associação até 1921. Organizou a primeira competição japonesa de natação em 1914. Viajou com diversos atletas japoneses dos mais diversos esportes como atletismo e natação para participar de campeonatos. E viajou diversos países como membro do COI para decisões sobre os Jogos Olímpicos. Numa destas viagens, em 1933, se encontrou com Adolph Hitler, visto que os Jogos Olímpicos de 1936 ocorreriam na Alemanha. E em 1936 o Japão foi definido como sede dos Jogos Olímpicos de 1940, sendo que esta decisão foi confirmada um pouco antes de sua morte, em 1938, no encontro do COI realizado no Cairo.

Jigoro Kano e políticos japoneses celebrando a escolha do Japão como sede dos Jogos Olímpicos de 1940
Jigoro Kano e políticos japoneses celebrando a escolha do Japão como sede dos Jogos Olímpicos de 1940

O Judô e as Olimpíadas

Nestes 29 anos de trabalho árduo em prol do esporte, o Judô nunca entrou como esporte olímpico. Jigoro Kano viajava o mundo e aproveitava cada viagem para realizar demonstrações de Judô e dar palestras sobre o Judô, como a famosa palestra dada em Los Angeles, em 1932, sobre a contribuição do Judô para a Educação.

Mas por qual razão Jigoro Kano não incluia o Judô como esporte olímpico?

Em uma carta escrita em 1936 para Koizumi Gunji sobre o tema, Jigoro Kano diz:

“Muitas pessoas tem me perguntado sobre o desejo e a possibilidade de o Judô ser introduzido junto com outros jogos e esportes nos Jogos Olímpicos. Se isso for o desejo dos outros países membros, eu não tenho objeção. Mas uma coisa é certa, o Judô não é em realidade um mero esporte ou jogo. Eu o tomo como um princípio de vida, arte e ciência. Somente uma forma de treinamento de Judô, chamado randori ou prática livre, pode ser classificado como uma forma de esporte. Judô deve ser tão livre de qualquer influência externa quanto a arte e ciência. E todas as coisas conectadas a ele deve ser direcionada ao seu fim último, o ‘Benefício da Humanidade‘”.

Jigoro Kano

Nesta carta Kano deixa claro a sua intuição de que transformar o Judô em esporte olímpico poderia diminuir e reduzir o Judô a um mero esporte, esvaziando o Judô de seus princípios fundamentais. Por isso ele nunca tentou sugerir que o Judô deveria entrar nas olimpíadas, em seus 29 anos de trabalho como membro asiático do Comitê Olímpico Internacional.

Mas um acontecimento global pode ter modificado o rumo do Judô para sempre: a Segunda Guerra Mundial. Por conta da Segunda Guerra Mundial, os jogos olímpicos de 1940 que seriam sediados no Japão foram cancelados. Em 1945, seguindo ordens dos Estados Unidos, o Ministro da Educação do Japão proibiu todo tipo de treinamento militar no país, incluindo centenas de artes marciais. As artes marciais foram eliminadas do curriculum de educação física das escolas e universidades. Apenas instituições privadas que conseguiram manter o ultranacionalismo de extrema direita longe de seus espaços tiveram permissão para funcionar, e foi o caso da Kodokan.

Em 13 de Setembro de 1950, após 5 anos de banimento, o Judô volta as escolas, mas com uma condição: O Judô deveria ser apenas um mero esporte, mantendo-se distante de qualquer forma de Bushido. A revista oficial do governo Japonês portanto anuncia: “O Judô nasceu de novo, e como um esporte, regressa ao caminho da prosperidade“.

O que será que Jigoro Kano pensaria sobre tudo isto que ocorreu com sua criação, o Judô, após a sua morte?

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