No post anterior, falamos das novas regras do Judô para 2013 que a Federação Internacional de Judô estará implantando de modo experimental. Ao final deste ano, as competições serão avaliadas e a FIJ decidirá o que ficará ou não destas regras.

Mudanças nas regras de kumikata - disputa de pegada

Mudanças nas regras de kumikata - disputa de pegada

Por um lado, as novas regras são positivas, como dito na análise do post anterior, pois estimula lutas mais dinâmicas nas competições. Nos últimos anos, inclusive nos jogos olímpicos, muitas lutas foram decididas através de estratégias de anti-jogo. Lutas vencidas apenas na pontuação por shido e um kumikata (disputa de pegada) amarrado. Então, sob este ponto de vista, e sabendo que o objetivo da FIJ é um judô mais atrativo e bonito, as novas regras alcançam o objetivo. Mas a que preço? Vejamos abaixo o lado negativo.

Atletas não podem cumprimentar-se apertando as mãos

Antes de entrar especificamente no lado negativo das regras, uma alteração irá causar bastante polêmica. As novas regras proibem os atletas de apertarem a mão antes da luta. A explicação para esta proibição é a seguinte:

“O Judô é um esporte cujos valores são mundialmente conhecidos e reconhecidos. No judô, há uma ‘cerimônia’, que é aceita por todos e que é parte do DNA do nosso esporte. Deve ser respeitada. É o símbolo do nosso código moral e adverte contra qualquer desvio. Os combatentes serão convidados a realmente respeitar o procedimento de cumprimento como foi definido desde a invenção do judô. No início do combate, não será permitida a utilização de outros sinais de cumprimento além do cumprimento tradicional. No final da luta, após o cumprimento, os combatentes estão autorizados a apertar a mão e felicitar-se com respeito.” (FIJ)

O que acham?

Vamos agora especificamente ao aspecto negativo das regras.

O lado negativo das novas regras de Judô para 2013

O lado negativo encontra-se todo nas penalizações. A primeira e talvez a mais polêmica é a seguinte:

1. Punições com Hansoku-make – Qualquer ataque ou defesa com uma ou duas mãos/braços realizados abaixo da linha da faixa, durante o tachi-waza.

Ou seja: estão eliminados qualquer tipo de golpe de catada de perna. Antes, ainda haviam três possibilidades para a utilização de técnicas de catada de perna. Agora, as catadas foram excluídas por completo. Eis a explicação desta mudança, segundo a FIJ:

“O objetivo do judô, como já foi apontado, é simples: marcar o ippon. Para isso, existem muitas possibilidades, o que torna o judô um esporte espetacular, mas ainda assim, uma atividade técnica. Uma maior clareza é necessária para o tornar mais compreensível para o judoka em si, para torná-lo mais fácil de avaliar, mas também fazê-lo mais acessível ao público. As catadas de perna diretas foram banidas das competições de judô nos últimos anos. Os efeitos são evidentes: algumas técnicas desapareceram em benefício do reaparecimento de movimentos espectaculares que não podiam ser executados devido à posição dos combatentes. A excepção feita para agarrar perna diretamente, no caso da pegada cruzada, fez a arbitragem ainda mais complicada, apesar da intervenção do vídeo. Por conta disso, qualquer ataque ou bloqueio abaixo da cintura, durante o trabalho em pé, vai agora ser sancionado pelo Hansoku-make, sem exceção.”

Ou seja: um dos preços que a FIJ está pagando para tornar o judô mais bonito, mais atraente ao público e mais fácil de se arbitrar é sacrificar uma grande quantidade de técnicas que estão no curriculum do judô desde a sua fundação. Técnicas que Jigoro Kano incluiu por serem técnicas eficientes e que atingem o objetivo do judô, que é o ippon. Se esta regra prevalecer, o judô esportivo estará definitivamente se distanciando do judô criado por Jigoro Kano.

Pegada cruzada sem projeção imediata será punida com shido

Pegada cruzada sem projeção imediata será punida com shido

2. Penalizações por Shido:

  • Quebrar a pegada usando as duas mãos;
  • Pegada cruzada, pegada na faixa e pegada no mesmo lado devem ser seguidas imediatamente de ataques. Caso contrário, o atleta será punido com shido;
  • Abraçar o oponente para projetar uma técnica (abraço de urso);
  • Atletas que não entrarem rapidamente no kumikata ou fugirem da pegada do oponente serão punidos com shido;

A explicação da FIJ para estas punições:

“A disputa de pegada (Kumikata) é parte da competição de judô. Buscando a melhor pegada para executar técnicas bonitas é algo lógico e necessário. Mas, para evitar que o oponente faça sua pegada, se não houver nenhum ataque imediato, não é construtivo. Recentemente, verificou-se que o processo de bloqueio do adversário tornou-se predominante em muitas lutas, levando a longos e chatos combates. Assim, as decisões foram tomadas para corrigir este objetivo. O objetivo não é impedir o trabalho de kumikata, mas torná-lo mais ativo e construtivo.”

De fato, muitos atletas foram prejudicados por conta do anti-jogo através do kumikata, como o caso do Leandro Guilheiro durante as olimpiadas de Londres. Entretanto, as vezes é importante alcançar a pegada ideal escalando uma outra pegada, fazendo uma pegada cruzada por alguns segundos para incomodar o oponente e assim pegá-lo desprevinido, dentre outras estratégias. O que a FIJ quer é que a competição de judô seja quase um evento de “joga-joga”. E mais uma vez, parece que o judô esportivo se tornará cada vez mais distante do judô criado por Jigoro Kano.

Estes dois aspectos da nova regra são muito negativos e prejudiciais para o judô. Se por um lado as competições ficarão mais bonitas, mais plásticas, mais fáceis de arbitrar e mais compreensíveis para o público leigo, por outro lado, não serão mais competições de Judô, mas de uma outra luta baseada no judô de Jigoro Kano.

O que acha destes aspectos negativos da nova regra?

Fonte: Federação Internacional de Judô