A Sensei Yuko Fujii é atualmente a técnica da equipe masculina da seleção brasileira de Judô. Uma pessoa fenomenal, e que nestes tempos de pandemia e quarentena tem demonstrado um grande amor ao judô nâo somente como esporte, mas como um modo de transformar a sociedade, participando de varias lives, conversas, aulas com crianças, etc. O texto abaixo faz parte da séria de conversas entre judocas renomados e a IJF. Neste texto, postado originalmente no site da Federação Internacional de Judô, a Sensei Yuko Fujii compartilha um pouco de sua experiência como treinadora da equipe masculina e sobre como está superando esta quarentena. Confira abaixo esta entrevista.
Conversa com Yuko Fujii
Nunca é fácil mudar sua rotina, especialmente para atletas profissionais. A pandemia obrigou todos a viver de maneira diferente. Como manter o equilíbrio físico e mental? Como manter o entusiasmo e evitar a depressão? A responsabilidade do sensei é muito maior que o normal. Eles têm soluções e têm sido generosos, como é de competência do treinador, responder às nossas perguntas. Neste segundo episódio, conversamos com Yuko Fujii, treinador da equipe masculina do Brasil.
Houve instruções específicas para os atletas sobre a dieta? Qual foi o impacto?
Nossa nutricionista da equipe trabalhou com os atletas sobre o que comer e o que não comer para fortalecer seu sistema imunológico. Temos tentado não pressioná-los a perder ou manter seu peso muito estritamente, pois isso pode causar um grande estresse e um sistema imunológico enfraquecido.
Qual a importância da psicologia para manter o judoca focado em um período tão difícil?
Eu acho que é um dos aspectos mais importantes, especialmente nessa situação. Muitas incertezas levam as pessoas a pensar em muitas coisas e elas têm tempo para refletir e se preocupar. Isso pode afastá-los do foco principal. No entanto, acredito que os atletas de elite têm uma mentalidade forte para mantê-los no caminho certo, mesmo que estejam enfrentando dificuldades. Como eles já superaram tantas situações difíceis para alcançar o nível de elite, a maioria deles sabe como controlar seu modo de pensar e manter uma saúde mental positiva.
O que você disse a eles para mantê-los treinando e não perder a esperança?
- Faça o que estávamos precisando de mais tempo durante a rotina movimentada da competição: estude as lutas deles e as do adversário e faça anotações para fazer ajustes com seus movimentos, timing, kumi-kata, técnicas e assim por diante. Agora, temos tempo de sobra para fazê-lo.
- Pense em se fortalecer dia a dia, progrida em vez de a preparação física ser calculada de volta das competições.
- Concentre-se no que está dentro de si mesmo.
- Pense em seus pontos fortes. Normalmente, eu digo a eles para encontrar e enfrentar seus pontos fracos, então esse é um ponto de partida real para nós.
E quanto a você? O que você disse a si mesma?
“É preciso ter calma e força e pensar no que poderíamos fazer para voltar ao tatame mais forte”. Os atletas já estão tentando fazer o melhor possível, embora tenham sofrido com as consequências da pandemia, perdendo seus ambientes de treinamento de alto nível.
Vocês estão ficando juntos para treinar continuamente?
Não, nós não somos. O Brasil é um país de tamanho continental, então aqui os atletas treinam em seus clubes. Costumávamos nos reunir com alguma regularidade, mas com o Covid-19 tivemos que parar.
Se vocês não estão juntos, como mantém o contato?
Entro em contato com eles por telefone ou reunião virtual. O importante no momento é que eles permaneçam mentalmente e fisicamente saudáveis. A equipe da seleção brasileira mantém contato diariamente com os judocas e estamos monitorando todas as necessidades dos atletas.
Como você lida com seu tempo agora? É diferente? Tempo em casa versus tempo no trabalho?
É muito diferente Eu costumava viajar muito e raramente tinha a chance de estar com minha família. Agora é o contrário e percebi que cuidar de dois filhos pequenos é mais difícil do que qualquer viagem ou trabalho. Espero que esse período traga ótimas lembranças aos meus filhos.
Qual é o seu sentimento / pensamento pessoal sobre a situação global e como você vê o futuro do judô?
Nada será como era antes, isso é fato. Não apenas no judô, mas também em muitos aspectos da vida. O judô está evoluindo constantemente. Embora sejamos tradicionais, somos adaptáveis. É muito difícil prever como será o nosso futuro.
Você modificou as técnicas específicas de judô usadas no treinamento para a equipe neste momento?
Não, eu não modifiquei.
Que equipamento de treinamento você gostaria que judocas usem quando treinam sozinhos / isolados? (Como elásticos de Uchi-Komi, kettlebells, máquina de remo, bolsa búlgara, mesa de balanço, bola suíça ou muitas outras)
Depende do que eles precisam melhorar. No entanto, mesmo quando você não possui esse equipamento, você pode ser criativo e ainda fazer um bom trabalho. Faz parte da vida do atleta ser criativo.
Você acha que há alguns pontos positivos a serem tirados dessa situação global desafiadora? Quais aspectos positivos se aplicam a você, sua vida ou seu trabalho?
A vida poderia ser muito mais simples e poderíamos sentir felicidade. Temos consumido muito mais do que realmente precisamos e queríamos mais e mais. Precisamos nos concentrar mais em fornecer, em vez de consumir; em outras palavras, dar ao invés de receber. Solidariedade pode ser uma palavra-chave, e a filosofia do judô praticamente nos ensina tudo sobre isso. Essa situação global me fez pensar nisso. Eu estive pensando sobre o valor dos esportes de contato, como o judô.
Qual judoca realmente impressiona você no momento e por quê?
Todos os meus atletas brasileiros me impressionam. A força em suas cabeças e a perseverança que têm é impressionante. Vamos sair disso muito mais forte
Se você encontrasse a lâmpada de Aladim e recebesse três desejos, o que desejaria?
Sabedoria, serenidade e uma vida alegre para todas as crianças.
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