Competição em Roterdã é marcada por zebras

O Brasil encerrou neste domingo (30) a participação no Campeonato Mundial Sênior, em Roterdã, na Holanda. O peso pesado Daniel Hernandes ficou na quinta colocação ao ser vencido na disputa da medalha de bronze pelo lituano Marius Paskevicius por ippon. A seleção brasileira se despede da Holanda com três quintos lugares. Além de Daniel, ficaram na quinta colocação Sarah Menezes (-48kg) e Rafaela Silva. As atletas conquistaram para o país o melhor resultado no feminino desde 2003, quando Edinanci Silva foi bronze.

No primeiro ano da criação do ranquemento mundial da Federação Internacional de Judô, o Campeonato Mundial da Holanda não valerá pontos para a disputa da vaga olímpica nos Jogos de Londres 2012. Valem para o ranking olímpico torneios disputados a partir de abril de 2010.

Outros dois judocas que tiveram em ação na Ahoy Arena no último dia do evento não avançaram na competição. Luciano Corrêa (-100kg) caiu nas oitavas-de-final para o mongol Temuulen Battulga e Rochelle Nunes perdeu na estreia para a cubana Idalis Ortiz.

O Mundial da Holanda pode ser considerado o mundial das zebras. A bela homenagem aos campeões olímpicos e mundiais, que tiveram a categoria presa nas costas com cores diferenciadas, acabou não trazendo muita sorte para quem as utilizou. Dos 56 medalhistas de Pequim 32 estiveram presentes na Holanda. No masculino, apenas o campeão do meio-médio (-81kg), Ole Bischof, da Alemanha, conseguiu voltar a subir no pódio – foi bronze. No feminino, a gigante peso pesado chinesa Tong Wen, porém, foi a única que voltou a conquistar a medalha de ouro. Já dos medalhistas no último mundial no Rio de Janeiro, em 2007, 10 receberam medalhas, sendo que no masculino apenas Ki-Chun Wang (KOR) e Teddy Riner (FRA) conseguiram confirmar o título respectivamente no -73kg e no + 100kg. No feminino, Weng Tong ganhou seu quinto ouro em mundiais. Dos líderes do ranking mundial antes do Mundial da Holanda, somente Yoshie Ueno (JPN, -63kg) e Ivan Nifontov (RUS, -81kg) foram campeões.

“O resultado foi, lógico, aquém do que esperávamos por conta do potencial da equipe. Acredito que erramos mais do que os adversários acertaram. Porém, o momento de errar é este, no começo de um novo ciclo olímpico. Diversos outros países também tiveram resultados adversos aqui na Holanda e isto mostra que num momento como este, de ressaca olímpica, não existe mais favorito. Já vamos começar trabalhar logo assim que desembarcarmos no Brasil”, afirma o coordenador técnico internacional da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson.

O presidente da Confederação Brasileira de Judô, Paulo Wanderley Teixeira, concorda que o trabalho deve começar imediatamente.

“Foi uma surpresa não muito feliz este resultado. Vamos sentar e avaliar onde erramos. Sabemos que o Brasil não foi o único país que teve um desempenho abaixo do esperado, mas vamos nos preocupar apenas conosco”, diz Paulo Wanderley.

Pela quinta vez em sua carreira, Daniel Hernandes chegou à disputa da medalha de bronze em um mundial. O judoca obteve o mesmo resultado em 1999 (Birmingham, GBR), 2001 (Munique, GER), 2003 (Osaka, JPN) e 2007 (Rio de Janeiro, BRA).

“Me entreguei o máximo que pude e vontade eu garanto que não faltou. Acredito mais que tenha faltado sorte. Na disputa do bronze eu fiquei com o placar contra e, como meu adversário tinha um wazari, tive que partir para cima com tudo”, diz Daniel.

O judoca analisou os resultados adversos de vários países no mundial.

“Acredito que o judô ficou ainda mais ingrato com este sistema de eliminação com a repescagem só valendo para quem chega até às quartas. Mas, este é o judô moderno e todos precisam se adaptar. O judô ensina a levantar rápido após uma queda e é isso que vou fazer”, comenta Daniel.

Para chegar à disputa do bronze, Daniel Hernandes fez a estreia contra o grego Vassileios Iliadis e venceu por ippon. Na fase seguinte outro ippon, desta vez em Kim Soo-Whan, da Coréia. Nas quartas-de-final, Daniel foi superado por ippon por Abdullo Tangriev, do Uzbequistão. Pela represcagem, bateu o mongol Gankhuyag Dorjpalam com um wazari.

Campeão mundial há dois anos no Rio de Janeiro, o meio-pesado (-100kg) Luciano Corrêa acabou eliminado nas oitavas-de-final.

Luciano estreou no evento com vitória por ippon sobre o grego Dionysios Iliadis. Em seguida, rápido como uma flecha, venceu o chileno Italo Cordova em apenas 13 segundos. Na terceira luta, foi superado com um wazari no golden score pelo mongol Temuulen Battulga e abandonou o sonho de lutar pelo bicampeonato.

“Na luta contra o mongol, ele fez um golpe de catada de perna e tenho um pouco de dificuldade em lutar com judocas de baixa estatura. Isto é um dos pontos que terei que trabalhar na volta para o Brasil. Foi uma das melhores preparações que já fiz e saio daqui muito chateado com esta derrota”, diz Luciano.

Sobre defender o título mundial, Luciano Corrêa afirmou que isto não influenciou no desempenho na Holanda.

“Não senti nenhuma dificuldade em lutar como campeão mundial e não sofri qualquer tipo de pressão neste sentido. Estava bem fisicamente no golden score e foi mérito do meu adversário ter vencido a luta. Acredito que toda a equipe do Brasil se empenhou ao máximo e acho injusto fazer comparações com o Mundial do Rio ou do Egito”, afirma Luciano, lembrando que houve mudanças na regra e no sistema de disputa entre as competições.

Rochelle Nunes (+78kg) foi superada pela cubana Idalis Ortiz no primeiro combate. O judô feminino fez em Roterdã, na Holanda, uma boa campanha. Desde 2003, quando Edinanci Silva (-78ikg) foi bronze no Japão, que o país não chegava até duas disputas de medalha. Sarah Menezes (-48kg) e Rafaela Silva (-57kg) são duas atletas fruto do trabalho de renovação do judô brasileiro. Campeãs mundiais júnior em 2008, Rafaela e Sarah ainda tem idade para representar o Brasil no evento de base.

“O que falta para elas é maturidade. Apenas isto. As atletas da seleção fizeram um bom mundial e a medalha não veio por pequenos detalhes. Estamos no início de um novo ciclo olímpico e este resultado me deixa otimista para o futuro”, diz Rosicléia Campos, técnica da seleção feminina.

fonte: www.graciemag.com