Essa imagem circulou a internet e, refletindo sobre ela, resolvi escrever o texto abaixo:

Quando alguém matricula o filho no futebol, está esperando que a criança se desenvolva física e psicologicamente, que melhore suas habilidades de interação social, mas infelizmente, de quebra vem alguns efeitos colaterais: ela aprende a fingir e inventar mentiras para conseguir seu objetivo.
São coisas comuns, tidas como “normais” no futebol. É assim quando se “cava” uma falta, quando finge um machucado para conseguir um pênalti, quando empurra colega com um “jogo de corpo exagerado” ou quando brigam e discutem se a bola atravessou ou não a linha ou simplesmente culpa os demais pelo fracasso do jogo.

Por outro lado, no meio da luta esses efeitos colaterais são muito menores. Lutadores que fingem lesões ou culpam terceiros pela derrota são minoria e são muito mal vistos. Isso NÃO é normal no meio das artes marciais. Quando aparece é uma anomalia. Lutadores aprendem desde cedo que lá no ringue, tatame ou jaula, ele é o único responsável pela sua vitória ou derrota. Que cada decisão que toma gera uma série de consequências que ele terá de lidar até soar o gongo. Os valores do lutador e do praticante de artes marciais são outros, ele aprende a duras penas a fazer as pazes com o ego, ali no auge do cansaço, quando as pernas tremem de fadiga e ele não suporta mais o peso dos próprios braços, ele finalmente começa a deixar de pensar no que os outros irão pensar se ele perder e começa a se preocupar em fazer “apenas” o melhor que pode. A palavra “apenas” está entre aspas, pois em algumas situações de luta, muitas vezes esse “fazer o melhor” pode parecer muito pouco para quem está de fora, pode ser “apenas” um pequeno espaço para respirar, a necessidade mais básica do homem, ou folgar uma chave-de-braço pra aliviar a dor.

O lutador aprende e entende que ele precisa ter coragem para superar as adversidades e serenidade para aceitar o que está fora de seu controle. Ele se torna menos preocupado com futilidades, se concentra mais no essencial e se acostuma a suportar a pressão da luta, e da vida. No judô há uma frase do fundador, Jigoro Kano, que reflete bem esse processo: “o Judoca não se aperfeiçoa para lutar, mas sim luta para se aperfeiçoar”.