Atualmente, é muito comum ver treinos de MMA e submission onde os atletas treinam apenas utilizando bermudas, de modo que não existe nenhum gi (kimono) para se realizar pegadas. Algumas pessoas acreditam que esse tipo de treino é recente, oriundo talvez de uma evolução do Jiu-Jitsu em função do MMA. E é possível encontrar professores de Judô acreditando ser até mesmo um absurdo realizar um treino de Judô sem Judogi.
Mas o fato é que já se treinava judô sem judogi antes mesmo de o Judô se tornar um esporte olímpico (talvez essa tenha sido uma motivação). Jigoro Kano era um visionário. Para ele, a arte tinha que evoluir, e a melhor forma de tornar o Judô uma arte mais completa era através do cross-trainning, ou seja, da troca de conhecimento com outras artes.
Um dos esportes que fez parte dessa troca de conhecimento foi o wrestling antigo (luta greco-romana, luta livre, etc). Conta-se inclusive que o kata-guruma surgiu no Judô por influência do Wrestling Europeu.
Kyuzo Mifune, um dos principais senseis da Kodokan, estimulava seus alunos a treinarem sem o judogi, como mostra a foto nessa postagem. Isso porque o Wrestling, na forma de luta greco-romana e luta livre já estava presente nas olimpiadas desde 1920. E treinar com atletas olímpicos, ou mesmo disputar as olimpiadas como lutador de wrestling era interessante para o desenvolvimento do Judô (o judô só virou esporte olímpico em 1964). Mifune também inseriu em seu livro “The Canon of Judo” (de 1958) – livro este que é uma das principais referências bibliográficas do Judô – diversas técnicas de chave- de-pé/leglock (ashi-hisigi, chave de torção de pé ou perna, e ashikujiki, chave para quebrar o pé ou perna, no Judô), algumas com referências explícitas às chaves utilizadas no wrestling.
Assim, é possível perceber que o treino sem judogi faz parte do treino do Judô tradicional. Claro, o Wrestling evoluiu, e com a entrada do MMA, com a evolução do Jiu-Jitsu, com competições que possuem as mais diversas regras, várias técnicas novas surgiram, diversas novas variações de técnicas antigas surgiram. E se Mifune ou Jigoro Kano estivessem vivos hoje, com certeza estariam estimulando os judocas a treinarem e aprenderem todas essas técnicas, pois o Judô não é um conjunto de 67 quedas oficiais.
O Judô – como concebido por Jigoro Kano – é uma arte em constante evolução.
Excelente reportagem oss.