Atualmente, é muito comum ver treinos de MMA e submission onde os atletas treinam apenas utilizando bermudas, de modo que não existe nenhum gi (kimono) para se realizar pegadas. Algumas pessoas acreditam que esse tipo de treino é recente, oriundo talvez de uma evolução do Jiu-Jitsu em função do MMA. E é possível encontrar professores de Judô acreditando ser até mesmo um absurdo realizar um treino de Judô sem Judogi.

Mifune supervisionando um treino de Judo sem Judogi, em 1933.

Mifune supervisionando um treino de Judo sem Judogi, em 1933.

Mas o fato é que já se treinava judô sem judogi antes mesmo de o Judô se tornar um esporte olímpico (talvez essa tenha sido uma motivação). Jigoro Kano era um visionário. Para ele, a arte tinha que evoluir, e a melhor forma de tornar o Judô uma arte mais completa era através do cross-trainning, ou seja, da troca de conhecimento com outras artes.

Um dos esportes que fez parte dessa troca de conhecimento foi o wrestling antigo (luta greco-romana, luta livre, etc). Conta-se inclusive que o kata-guruma surgiu no Judô por influência do Wrestling Europeu.

Kyuzo Mifune, um dos principais senseis da Kodokan, estimulava seus alunos a treinarem sem o judogi, como mostra a foto nessa postagem. Isso porque o Wrestling, na forma de luta greco-romana e luta livre já estava presente nas olimpiadas desde 1920. E treinar com atletas olímpicos, ou mesmo disputar as olimpiadas como lutador de wrestling era interessante para o desenvolvimento do Judô (o judô só virou esporte olímpico em 1964). Mifune também inseriu em seu livro “The Canon of Judo” (de 1958) – livro este que é uma das principais referências bibliográficas do Judô – diversas técnicas de chave- de-pé/leglock (ashi-hisigi, chave de torção de pé ou perna, e ashikujiki, chave para quebrar o pé ou perna, no Judô), algumas com referências explícitas às chaves utilizadas no wrestling.

Mifune aplicando uma técnica de ashikujiki (leglock), em 1958.

Mifune aplicando uma técnica de ashikujiki (leglock), em 1958.

Assim, é possível perceber que o treino sem judogi faz parte do treino do Judô tradicional. Claro, o Wrestling evoluiu, e com a entrada do MMA, com a evolução do Jiu-Jitsu, com competições que possuem as mais diversas regras, várias técnicas novas surgiram, diversas novas variações de técnicas antigas surgiram. E se Mifune ou Jigoro Kano estivessem vivos hoje, com certeza estariam estimulando os judocas a treinarem e aprenderem todas essas técnicas, pois o Judô não é um conjunto de 67 quedas oficiais.

O Judô – como concebido por Jigoro Kano – é uma arte em constante evolução.