Se você participa de competições, certamente já passou pela situação de lutar com atletas que nunca havia lutado antes e que você não conhece o estilo dele lutar, correto?
Você chega no evento, passa o olho nos possíveis adversários de sua categoria e pensa:
– Será que eles são fortes?
– Será que estão em forma?
– Eles parecem ser duros?
Você dá uma sacada na aparência física e começa a se medir:
– Eles tem trapézios saltados? Braços mais fortes que os seus?
– Uma aparência feroz?
Aí chega a hora da luta, o juíz diz: “hajime!” e a luta começa. Vocês circulam pela área do tatame travando uma disputa de pegadas e ele consegue uma pegada firme em seu judogi… Uma voz lá no fundo de sua consciência diz assim: “Uau, esse cara é muito forte! Isso vai ser uma guerra!”
Essa situação acima lhe soa familiar? Você já passou por isso?
Força versus Técnica no Judô
Você percebeu que durante todo o processo de medir seus potenciais oponentes, nada relacionado à técnica deles passaou por sua cabeça?
Depois que a luta começa, o que primeiro você nota é a força do seu oponente ou a falta dela. A força física representa realmente um grande papel na competição de judô, ser mais forte que seu adversário, realmente ajuda. Nos níveis mais básicos do judô, se você é mais forte, você pode ditar as regras do jogo, dominar as pegadas e evitar ser derrubado.
Você já conversou com alguém que acabou de ser arremessado em questões de segundos? Essa pessoa nunca diz: “O meu adversário era tão técnico… Que judô fantástico!”
Pessoas que perdem no primeiro minuto de luta, normalmente dizem algo como: “Pôxa, ele fez uma pegada que era muito forte. Não consegui impedir, ele era mais forte do que eu e não consegui impor meu jogo.”
Portanto força faz a diferença!
Será que Jigoro Kano estava certo? Será que a técnica se sobrepõe à força?
SIM. Kano estava definitivamente certo. Técnica supera a força. Mas onde está o problema?
Acontece que a maioria das pessoas pensam em técnica e força em dois pacotes separados, como se você tivesse que escolher entre uma coisa ou outra. Mas o que acontece se você possui ambas, força e técnica?
Quando você tem força física e técnica, você se torna um judo-ka muito mais duro, difícil de ser vencido.
A força é como uma base sólida, de onde você libera toda sua técnica com vigor. Não negligencie os treinos de força para o judô. Treine corretamente com pesos e também com exercícios dirigidos, os chamados “educativos”.
Ganhe força, direcionando-a para a técnica!
Fonte: Matt D’Aquino – Beyond Grappling
Fui aluno de Sensei Yoshihiro Okano na categoria infantil em Londrina – PR. Tenho estatura baixa. Naquela época minha estatura e peso era muito abaixo da média das crianças da minha idade, muito baixinho e magro. Quem conhece a região sabe da predominância das colônias italianas e alemãs na cidade, portanto crianças de porte maior. Para minha sorte, de alguma forma consegui naquela época entender o que meu sensei insistia em repetir, “rápido, sem força , na hora certa”. Ele nos forçava bastante em exercício das pernas. Principalmente com um exercício que eu chamava de sapo, que era dar voltas no dojo, saltando agachado, na ponta dos pés e com a mãos na cintura. Precisava ter equilíbrio e resistência. Ele pedia muito esse exercício (alguém sabe o nome disso ?). Ele também dizia que pra eu usar a força do colega, não a minha, eu tinha que descobrir o caminho e a hora certa, mas eu não entendia. Eu olhava tudo com muita atenção e curiosidade, mas era difícil para uma criança de 9 anos perceber. Um dia observando os mais velhos lutarem, sem querem percebi que sempre que um empurrava o adversário reagia e empurrava de volta com mais força … essa foi minha modesta descoberta. Passei a lutar com o corpo mais ereto, mais em pé e próximo do colega, eu os empurrava bastante para trás e ficava esperando que eles me empurrassem de volta para eu aplicar de surpresa os golpes básicos que eu sabia. Acabei me especializando em Tomoe Nague, que aprendi a aplicar com relativa perfeição, de tanto treinar e repetir com meninos de diferentes alturas e pesos. Aos poucos passei a “meio que me oferecer para ser derrubado por um Uchimata, Seoi-Nague ou Ouchi Gare, ficava bem ereto e deixava o colega ficar bem perto pra facilitar e quando ele aplicava, eu dava um pequeno impulso nas pernas, rolava sobre ele, caia de pé e aplicava O-goshi, Seoi-Nague e emendava uma tentativa de imobilização do chão. Usava o Tomoe Nague em contra golpe de surpresa contra o Ouchi-Gare ou quando o colega me empurrava com força para trás. Venci muitas lutas e ganhei algumas medalhinhas, com essa ideia. Eles eram bem mais fortes e a chance que eu tinha era ser rápido e fazer tudo que eu sabia logo no inicio. Essas descobertas modestas melhoram muito minha autoestima e confiança, valeram pra minha vida de adulto. Infelizmente parei de praticar Judô aos 18 anos mas o aprendizado foi para a vida. O mestre Kano tinha razão, mas temos que manter o corpo saudável, rápido, resistente e o equilibrado e principalmente a vontade de vencer.
Que história maravilhosa!!! Uma coisa é certa: Você tem que voltar ao Judô! Ensinamentos como estes devem ser propagados em larga escala! Obrigado por compartilhar conosco sua história. Arigatou Gozaimashita!