O termo “Kumi-Kata” se refere, no Judô, à pegada. Saber fazer uma boa pegada contra o uke é o primeiro passo para a entrada do gople perfeito.

Nem todos os golpes saem da mesma pegada. Apesar de, durante os aprendizados iniciais, o aluno aprender a pegada tradicional – uma mão segurando o braço do uke e a outra na gola do judogi – esta de longe é a única pegada existente, e cada praticante, com o tempo, vai desenvolvendo sua própria estratégia de kumi-kata adaptada à realidade de seu corpo.

O vídeo abaixo mostra uma das lendas do Judô, o Mestre Masahiko Kimura – conhecido no Brasil por conseguir vencer outra lenda das artes marciais, o Mestre Hélio Gracie – mostrando algumas técnicas a partir tanto da pegada tradicional como de pegadas diferentes:

Sendo assim, é importante que o praticante tenha em mente que não deve deixar o oponente levar vantagem na pegada, sendo necessário, no início do combate, realizar a disputa de pegada, para conseguir já de início uma posição mais vantajosa do que a do oponente.

No Judô tradicional antigo, não existiam restrições quanto ao kumi-kata ou ao que poderia acontecer na disputa de pegada, assim como também não haviam restrições em relação à técnicas proibidas. Porém, com a entrada do Judô como esporte olímpico (Jigoro Kano era contra isso), muitas regras foram criadas, até chegarmos à atual regra, divulgada no fim de 2009, e já colocada em prática no Grand Slam de Judô em Tóquio de 2009. E nessas novas regras, existem algumas restrições, mas que não impedem tanto a disputa de pegada e a busca pelo golpe perfeito.

O vídeo abaixo mostra o brasileiro Leandro Guilheiro em uma luta com bastante disputa de pegada que ocorreu sob as novas regras do Judô Olímpico, no Grand Slam de Tóquio – 2009:

Vendo o vídeo, vamos analisar o que de acordo com as regras olímpicas criadas pela FIJ – Federação Internacional de Judô – não é permitido em uma luta de competição (shiai), ocasionando em advertência caso seja feito:

  1. Não é permitido fugir intencionalmente da pegada o oponente, não permitindo que ele possa realizar o kumi-kata. Isso não significa que não sejam permitidas esquivas à possíveis pegadas, como mostrou o vídeo acima, do Leandro Guilheiro;
  2. Depois que as pegadas foram estabelecidas, ficar mais de 5 segundos em postura defensiva não é permitido;
  3. Não é permitido segurar nas mangas do judogi do oponente de modo defensivo por mais de 5 segs;
  4. Não é permitido pegadas onde os dedos fiquem por dentro da manga ou para a parte de dentro do judogui do oponente;
  5. Não são permitidas as pegadas na manga do judogui no estilo “Pistol” (segurando o final da manga entre o polegar e os demais dedos) e no estilo “Pocket” (dobrando o final da manga para cima);
  6. Não é permitido ficar mais de 5 segundos realizando uma pegada não-normal sem realizar um ataque. A pegada normal é aquela em que a mão esquerda do atleta segura alguma parte do lado direito do oponente e a mão direita do atleta segura alguma parte do lado esquerdo do oponente. Assim, o atleta pode, durante a disputa, segurar com sua mão esquerda o braço direito do oponente e com sua mão direita segurar a gola direita do oponente (essa é uma pegada não-normal), porém, se não realizar um ataque em menos de 5 segundos, essa pegada se torna falta.

Tendo em mente o que é permitido ou não em competições, isso não significa que no randori essas regras tenham que ser seguidas à riscas. Randori significa “prática livre”. É o treino onde o Sensei pode escolher que tipo de regra ele quer permitir naquela prática, para trabalhar com os alunos características específicas. O sensei pode decidir permitir newaza no randori, permitir pegadas diversas por mais de 5 segundos, proibir que se use uma das mãos deixando-as presas por dentro da faixa, enfim, decidir como quer que o randori ocorra para que seus alunos melhorem globalmente.

Sensei Mifune mostrando o Tai-Otoshi

Sensei Mifune mostrando o Tai-Otoshi

Por exemplo, na nova regra não é mais permitido o morote-gari como golpe inicial, sendo apenas permitido esta técnica como técnica de contra-ataque (gaeshi-waza) ou uma segunda técnica de um ataque combinado (renraku-waza). Porém, nada impede que o sensei, no randori, permita que o morote-gari seja utilizado como técnica inicial, para treinar o reflexo e a velocidade de defesa de seus atletas.

Por conta disso, o fato de existirem regras para o Judô Olímpido não deve limitar os praticantes impedindo-os de treinar o Judô Tradicional. O Judô tradicional é aquele que não se limita à regras competitivas. Jigoro Kano temia isso. Assim, devemos conhecer as regras para conhecer a história do Judô Olímpico e para nos prepararmos caso seja de nosso interesse competir nesta modalidade. Mas durante o treino do Judô no dojo e no dia-a-dia, devemos seguir a orientação do nosso sensei para que ele trabalhe conosco o Judô Tradicional, completo e sem limitações criadas artificialmente para interesses competitivos.

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